Monday, October 09, 2006

The Gift :: Film

Discos: The Gift, Film

Film é o mais recente álbum dos portugueses The Gift. Segundo registo oficial da banda de Alcobaça, que após o êxito de Vinyl (lançado em finais de 1998, mas que percorreu todo o ano seguinte com notável brilhantismo) confirma os The Gift como os porta-estandarte do «do it yourself» nacional e como líderes na inovação e perfeição que colocam em todas as suas criações. Um regresso em grande, num álbum que resulta de modo extraordinário ao vivo, mas que exige cuidadas escutas até ser totalmente absorvido.
Em 1997, Digital Atmosphere - mini-álbum de estreia, discreta, mas com excelentes momentos pop, ocasionalmente recuperados para algumas actuações – lançou as primeiras pedras. Em plural. Porque não foi apenas um o caminho então indicado.
E isso notou-se em Vinyl, que em 1998 e 99 vendeu mais de 35 mil cópias e permitiu à banda efectuar perto de cem espectáculos. Gravado na casa dos irmãos Gonçalves, Nuno e John, com recurso a samplers e uma orquestra, Vinyl marcou a história da música portuguesa no final da década de 90, surgindo como uma lufada de ar fresco e possuidor de uma estética musical e visual assente na independência criativa e produtora. Moderno e com grandes canções, tornou-se um disco essencial em qualquer discografia.
No final de 1999, já na consagração dos Coliseus – algo inimaginável meses antes – e após um concerto memorável na Aula Magna de Lisboa, surgiram em formato quase adulto dois temas incluídos neste Film: Front Of e Five Minutes Of Everything.
Foram os primeiros indícios para a produção de um álbum que foi preparado cuidadosamente e forma minuciosa segundo as directrizes lançadas essencialmente por Nuno Gonçalves, o que elevou bem alto o grau de exigência interior do próprio grupo, com especial destaque para a novas potencialidades da voz de Sónia Tavares e a inclusão de arranjos ainda mais complexos, nos quais se encaixa de forma subtil a guitarra de Miguel Ribeiro.
Claro que a presença e participação de Howie B (na remistura de seis dos 13 temas do álbum), Will O´ Donovan (engenheiro de som de Howie B), Joe Fossard (também nas misturas), Daniel Howard (baterista do Cinematic Orchestra, um dos emblemas da Ninja Tune) e de uma orquestra profissional ajudaram de forma decisiva a obter o arranjo final, mas tal não retira o mérito aos quatro gifters na exteriorização de uma identidade própria.
Water Skin é o primeiro single extraído do álbum, mas também podia ser o dançante Clown, o fabuloso Me, Myself and I, Next Town, Front Ofou o soberbo Question of Love. A qualidade do disco é inegável e permite várias formas de leitura e audição.
A consagração de uma das melhores bandas nacionais (num cenário onde se enquadram Madredeus, Mão Morta, Clã, Silence 4, Ornatos Violeta e mais três ou quatro bandas, bem como meia dúzia de nomes a solo) e a certeza de que Film é o melhor disco pop português dos últimos anos. Sónia, Nuno, John e Miguel estão de parabéns e com todos os motivos para estarem satisfeitos.


Filipe Rodrigues da Silva in Diariodigital.com- 26-05-2001