Monday, October 09, 2006

The Gift :: AM-FM

The Gift

Portoànoite – Como é que se juntaram os “The Gift”?
The Gift (John Gonçalves) – Há 10 anos atrás, numa terra pequena, em Alcobaça, onde não era muito normal se formarem bandas, as pessoas que as queriam formar culturalmente e artisticamente acabavam por se encontrar em cafés, na rua ou em bares... Eu e o meu irmão tinhamos outros projectos, e aconteceu que quatro pessoas amigas se juntaram e foi assim que tudo começou. Na altura eu estava fora, a fazer uma viagem de interrail e, quando cheguei, o meu irmão mostrou-me uma cassete do que eram os The Gift no principio e gostei muito do trabalho.

Prtnoite – Vocês abdicaram de cantar em português, o que é que vos levou a cantar em inglês?
TG(JG) – Voltando atrás, quando estávamos em 94 a pensar em formar a banda, a primeira coisa em que pensamos, sinceramente, não era em ter uma carreira ou em ter sucesso, nem sequer pensamos no sentido, “eu vou fazer a minha vida disto”, pensamos artisticamente o que queriamos transmitir, basicamente foi isso, nunca pensamos em cantar em português. Tivemos influências americanas, inglesas e alemãs que cantavam em inglês. A língua inglesa era uma característica comum das influências que nós tinhamos, não pensamos se íamos vender ou não, se as editoras iam gostar ou não... isso vem tudo depois, antes disso vem a questão do inglês ser uma estética assumida enquanto banda, do mesmo modo que queriamos misturar electrónica, com pop, com guitarras e com elementos clássicos, tudo isto estava relacionado com o inglês, daí ter surgido a nossa escolha.

Prtnoite – Como é que surgiu o nome para este albúm AM/FM?
TG(JG)–
Depois de começarmos a trabalhar no disco começamos a perceber que as músicas tinham personalidades diferentes, ou seja, havia uma série de músicas que tinham uma atitude diferente, em vez de estarmos a cortar músicas para tentar que um lado parecesse mais extrovertido e outro lado mais intimo, optamos, porque não, separá-las, e nesse sentido fizemos um disco duplo, optamos por separá-lo e daí o nome “AM/FM”, o lado AM que está muito ligado a uma coisa mais intima, mais para o rádio de casa e o FM mais social, mais para se ouvir no carro, mais club e nesse sentido achamos que é um nome que resume muito bem o que é o disco e quando se ouve consegue-se perceber claramente de que lado estamos a falar quando falamos de AM e FM.

Prtnoite – Quais são as principais diferenças entre o último albúm e este AM/FM? TG(JG) – O “Film” foi um disco que foi feito numa altura em que vinhamos de um sucesso inesperado, que foi o “Vynil”, e conseguimos fazer do “Film” algo que queriamos fazer há muito tempo, trabalhar com produtores internacionais, com muitos meios e fazer um disco épico no sentido clássico do termo, nesse sentido os “The Gift” fizeram um disco muito bom, foi um disco com uma estética muito própria porque todo ele tem uma aura de cinema, de filme, de película e nesse sentido o Film era um disco, se calhar, mais pomposo e mais de cordas. O “AM/FM” é mais contido, voltamos aos quatro Gift’s não tanto às cordas e às guitarras clássicas...voltamos à banda e nesse sentido demos um salto qualitativo, voltamos a reencontrarmo-nos como tinhamos feito à anos atrás quando começamos, isso acabou por influenciar a própria sonoridade deste disco “AM/FM”.

Prtnoite – Os The Gift já actuaram em palcos fora de Portugal, o que nos podem contar dessas actuações?
TG(JG) –
Como eu costumo dizer “A brincar, a brincar já lá fomos tocar cem vezes ” , grande parte desses concertos foram em Espanha, cerca de quarenta, depois também fomos aos Estados Unidos, a Itália, França, Alemanha, Holanda, Venezuela... Nós definimos enquanto banda, da mesma maneira que tínhamos definido à 10 anos atrás, que queríamos conquistar Portugal, que depois de 2000/2001 iríamos tentar que a música dos “The Gift” fosse ouvida, comprada e tocada lá fora. O mercado mundial é um mercado gigantesco mas ao mesmo tempo limitado a bandas que vêm de países “periféricos”, no entanto Espanha é um mercado no qual estamos a trabalhar bastante bem, o disco vai ser editado em Espanha dentro de um mês com uma boa distribuição e com uma boa promoção e estou convencido que vamos fazer muitos concertos entre Portugal e Espanha. Vamos voltar aos Estados Unidos, a L.A., dia 3 de maio, para um festival importante, ou seja, estas experiências são boas porque tocamos para platéias que não nos conhecem, isto é, dão-nos a sensação que estão a descobrir o nosso som, isso é muito bom e estamos sempre à espera que aquelas 200, 300, 1500 pessoas como neste último caso aconteceu, quando estivemos a tocar com os Flaming Lips, apreciem o nosso som que como é óbvio não tem nada a ver com Portugal, nós cá temos uma estrutura e uma carreira, lá fora temos idas pontuais que neste momento ainda não significam uma carreira mas que esperamos que num futuro próximo possa significar.

Prtnoite – Sabemos também, que para este albúm, foram gravar dois videoclips aos Estados Unidos, como foi essa experiência?
TG(JG) –
Nas nossas incursões pelos estados unidos conhecemos várias pessoas e uma das pessoas que conhecemos foi o Danny Passman, que é uma pessoa que tem uma história muito interessante connosco, ele foi-nos ver porque na altura o pai dele estava ligado a uma editora e, como não pode ir, mandou o filho, ele apaixonou-se pela banda e de certa forma por nós porque ficamos muito amigos dele enquanto realizador, o Cyro é um francês que está a viver em Nova Iorque, foi-nos ver a um concerto no Mercury Lounge e também gostou muito dos The Gift, a partir daí mantivemos contacto com ele. Quando lançamos este novo disco AM/FM o teledisco “Driving you slow” estava a ser gravado em Portugal e o video saiu. Na altura que fomos apresentar o disco às editoras estrangeiras, Londres, Nova Iorque e LA contactamos por telefone com o Cyro e o Danny e no meio dessas conversas surgiu uma ideia, porque não fazer um video? Assim foi, mandamos as músicas, eles ouviram, o Cyro escolheu a “Music” e o Danny a música “11:33”. Em termos de orçamento sabiamos que tinhamos que gastar esse dinheiro num futuro próximo em Portugal ou em qualquer outro sitio e acabou por se proporcionar uma coisa muito boa, se nós gravassemos os 3 videoclips logo no primeiro mês do disco estávamos muito mais livres para tocar, sem estarmos preocupados em gravar os telediscos. Temos muita confiança no nosso realizador português, que é fantástico, o Paulo Costa Pinto que realizou o “OK”, “Questios of Love”, Water Skin” e o “Driving you slow”, foi tudo feito pelo mesmo realizador e acho que temos tido muita sorte nos nossos videos, quer se goste mais de um ou de outro são sempre videos com grande qualidade. Os videos que gravamos nos Estados Unidos vão manter essa qualidade, como é óbvio, mas são videos gravados noutro ambiente e nós também queriamos passar por essa experiência.

Prtnoite – No caso de surgir uma oportunidade de partilharem o palco com uma banda à vossa escolha quem escolheriam e porquê?
TG(JG) –
Vou dar dois nomes que acho, se nos dissessem que iriamos partilhar o palco, metade do próximo ano, com uma banda e a outra metade com a outra, não tenho dúvida nenhuma que os “The Gift” entrariam, definitivamente, no mercado mundial, uma delas seriam os “Radiohead” e o outro artista seria o “Beck”, porque são exemplos que nós seguimos, não a nível estético, porque o “Beck” tem uma estética, os “Radiohead” têm outra e os “The Gift” outra diferente, mas sim a nível da criação de música alternativa, acho que cada um de nós tem o seu caminho muito definido se bem que todos temos pontos em comum, não fazemos cedências ao mercado, mas de alguma maneira conseguimos, agradar a “gregos e a troianos” , ou seja, agradamos um público mais mainstream, mais popular, mas também agradamos aqueles que são mais entendidos, mais cultos e informados, além disso tanto o Beck, os Radiohead e os The Gift têm grandes espectáculos ao vivo, isso é um facto, acho que nós temos um espectáculo muito forte que não ficaria nada mal com qualquer um destes artistas e é óbvio que em termos de notoriedade seria muito bom. Nos concertos que fizemos com os Flaming Lips nos Estados Unidos sentimos isso automaticamente. Na pergunta que estão a fazer eu até iria mais longe, se me dessem a escolher hoje, “O que é que queres que aconteça aos The Gift no próximo ano?”, eu diria que era andar seis meses com o “Beck” e seis meses com os “Radiohead”.

Prtnoite – Como está a vossa agenda para os próximos tempos, por onde vão actuar?
TG(JG) – Neste momento já temos cerca de 60 concertos marcados em Portugal, e acho que poderemos chegar aos cem até ao final do ano, o que é um número absolutamente notável. Nós temos uma grande vantagem com os “The Gift”, é que podemos fazer concertos em teatros, auditórios, discotecas, praças, queimas... Temos um espectro muito grande de sítios onde podemos ir tocar, claro que, adaptamos sempre o nosso alinhamento e a maneira como tocamos a esses espaços, e isso trás uma grande vantagem em relação a outras bandas. Vamos também tocar a Espanha no âmbito da promoção do nosso disco e a partir de outubro, novembro e dezembro, iremos tocar só em Espanha e Portugal e no meio tentar umas incursões pelo estrangeiro.

Prtnoite – Por fim podem deixar uma pequena mensagem para os nossos utilizadores?
TG(JG) –
Que utilizem o site www.portoanoite.com, para escolher aquilo que de melhor acontece na cidade. Sou um habitual consumidor de cultura e tento estar sempre atento ao que se passa através de jornais, revistas... e esta não deixa de ser uma maneira muito boa de aceder à cultura em casa. Por fim espero que continuem a visitar o site e se possível que vejam os nossos concertos e que nos encontremos num dos espectáculos aqui na área do Porto. Visitem também o nosso site, o endereço é www.thegift.pt.

Entrevista elaborada por: Gonçalo Coelho
www.portoanoite.com