Monday, October 09, 2006

The Gift :: AM-FM

The Gift «AM-FM»

The Gift são uma banda enérgica muito difícil de classificar. É uma espécie de mistura de Bjork com Anastacia. É um grupo de rock alternativo que dá grandes espectáculos ao vivo. Têm vindo também a superar relativamente às edições de álbuns. Na primeira maquete «Digital Atmosphere» (1997) mostraram que pretendíam criar um som moderno e fugir ao registo habitual da ‘guitarra, baixo, bateria e voz’, colocando mais instrumentos por cima da electrónica protagonizada pelo teclado e pela caixa de ritmo. No primeiro álbum editado «Vinyl» (1998) o som segue o mesmo registo. Não traz nada de novo e de diferente do que já tinham tocado ao vivo ao apresentarem a maquete. É talvez o pior álbum da banda, o mais fraco, mas importante para o começo de uma evolução. Com «Film» tornam-se mais conhecidos e recebem excelentes críticas. Fazem uma digressão que se estende até ao estrangeiro, e a partir daí não faltam ainda convites para tocar fora do País. É o disco mais comercial deles. «AM-FM» é o seu primeiro álbum duplo e entrou directamente para o terceiro lugar do top de vendas em Portugal. Reconhecem-se mais como banda neste novo trabalho e dizem que é o único que tem realmente alguma coisa a ver com o ano em que foi editado (2004). De facto, unem as duas vertentes que separam o grupo em termos de gostos musicais. Uns preferem tocar músicas mais calmas e intimas, outros preferem músicas alegres, experimentalistas e electrónicas. Daí a separação entre AM e FM, respectivamente. «AM-FM» vive de contrastes e dualidades. São duas sintonias que se complementam num som moderno e ambicioso. «AM» começa com “I am AM”. A batida é lenta mas cheia de pormenores electrónicos que dão algum brilho e suavidade à linha musical. O próprio título do tema mostra que «AM» é o que eles são, o íntimo da própria banda, daí talvez este tenha sido escolhido para primeiro tema. Depois, segue-se “Are You Near” com uma bateria forte e pesada, efeitos cheios de delay e algum reverberizador na voz. Depois, viramos um bocado para o acústico com “Wallpaper”. A própria batida lembra aqueles concertos de blues que às vezes ouvimos no canal Mezzo. O teclado faz aqui um bom solo. A voz está num registo muito cinematográfico, bem ao geito de Sónia Tavares. “Wake Up” começa com um batuque de efeitos bem ao estilo de música house. A melodia surge depois com a voz. É um ‘acordar’ progressivo. Contudo, a repetição do efeito que está por detrás da batida às vezes chateia. Deviam de colocar isso em pontos fortes da música e preencher os outros espaços com solos de teclado ou mesmo violino. “1977” segue uma espécie de mistura de funk rock com electrónica. Gosto do duo bateria/baixo. O trabalho de baixo está muito bom e completo. Vale a pena aumentar o bass nos auscultadores quando ouvimos esta música. Seguem-se “Elisa”, um acústico orquestral, “Bonita”, um som mais electrónico e digital e “Guess Why” faz a ponte para o «FM» com um som que regista tanto pormenores calmos e íntimos como uma batida mais alegre e extrovertida. «FM» começa com o single “Driving You Slow”, com um ritmo muito acelerado até, o que contrasta com título do tema. A voz surge com pormenores de eco que preenchem o espaço pintado pelos efeitos electrónicos. É um ambiente ‘rádio’ bem pormenorizado. “11.33” começa com uma balada de piano e depois surge-nos um ambiente completamente diferente virado para um cenário de hip hop bem ao estilo de música de bairro. Em “Cube” temos um excelente trabalho de baixo e sons de ambiente recheados de alguns arpejos de teclado, num panorama sonoro muito calmo. “Music” soa a uma balada electrónica, “An Answer” é música de discoteca, muito experimental e robótica. Depois temos “Pure” que mistura um som que parece ter saído de um musical da Broadway com um ritmo electrónico bem programado. O penúltimo tema “You Know” mostra uma voz carregada de efeitos e reverberizador por cima de um patch de teclado que traça a linha contínua da música até ao fim. “Red light” é o som mais estranho do álbum. É claramente uma mistura de house com música electrónica. O tema está carregado de efeitos e é unicamente guiado pelos excelentes pormenores rítmicos. É difícil perceber o sentido da música à primeira. «AM-FM» é um trabalho de excelente qualidade, o que mostra que, em Portugal, quando há força de vontade produz-se muito melhor do que lá fora. O trabalho rítmico está impecável. Tem pormenores que fogem ao registo a que estávamos habituados a ouvir e a seguir. A própria melodia evoluiu muito para sonoridades mais maduras. Estamos perante uma clara coerência invejável ilustrada pelo gosto em arriscar e pela necessidade de surpreender.

Crítica por: Dinis Costa 2004-12-07
Jornal diário de Música
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