Tuesday, March 20, 2007

The Gift :: Facil de Entender

Banda de Alcobaça visita a capital algarvia
The Gift: Um presente fácil de gostar


Na primeira vez que o grande público reparou nos The Gift, as televisões e rádios portuguesas tocavam, ainda timidamente, a canção “Ok! Do You Want Something Simple?”, do seu álbum Vynil. Corria o ano de 1998. Agora, quase uma década depois, os The Gift contam com um currículo que de simples tem muito pouco: um DVD, quatro álbuns, nove vídeos, dez singles e cinco tournées, incluindo a actual «Fácil de Entender Tour», com a qual visitam Faro esta noite e que promove o CD/DVD com o mesmo nome. Pelo meio conta-se ainda a fundação da sua empresa La Folie Records, o sucesso que têm tido na Espanha, os concertos nos Estados Unidos e Brasil, e muitos, muitos prémios, entre os quais uma vitória da MTV, em Lisboa, na categoria de «Melhor Banda Portuguesa 2005».A vocalista, Sónia Tavares, esteve em conversa com o nosso jornal so-bre vários assuntos da banda.

O Algarve (AO) – Porquê um álbum ao vivo agora? É um balanço?
Sónia Tavares (ST) – Não, não é um balanço. Eu acho que a ideia era darmos uma roupagem nova às canções. Este «Fácil de Entender» não é um Best Of, mas sim um registo de duas noites que decidimos fazer com músicas de sempre dos The Gift, com músicos convidados e com novas sonoridades. São dois registos muito distintos: uma parte muito ín-tima e a outra muito electrónica.

OA – Uma vez que a música «Fácil de Entender» era uma faixa-escondida do disco AM-FM, de onde surgiu a ideia de trans-formá-la no single e título deste novo projecto?
ST – Fundamentalmente, o título da canção era aquilo que queríamos dizer com este projecto. É fácil de entender os The Gift desta maneira, o que somos há 12 anos, as nossas canções, ver-nos da maneira que nós somos. E decidimos que esta canção seria a cara ideal para apresentar o projecto. É uma música que realmen-te estava escondida (só tinha piano e voz), e como julgo que o que fazemos melhor são canções pop, decidimos rearranjá-la para uma nova versão, fazendo com que ela fosse, então, o cartão de visita deste projecto.

OA – Porque não escrevem mais músicas em português?
ST – A inspiração não pede licença e a criatividade também não, e às vezes as coisas surgem em inglês porque foi o caminho que decidimos assumir desde 1994. Mas como somos portugueses as coisas também surgem em português. Desta vez decidimos fazer uma ou outra música assim, mas nunca esperámos que a «Fácil de Entender» viesse a tomar as proporções que tomou e que está a ter. Julgamos que, no fundo, o que interessa é comunicar, e antes de chegar e agradar-mos às pessoas, nós somos os nossos maiores filtros. É assim que funcionamos.

OA – O que é que vos inspira a fazer música?
ST – No fundo é acreditarmos que aquilo que fazemos é bem aceite pelas pessoas e que há público para nós. É fazer o que realmente gostamos: escrever, viver e experimentar. E depois tentar chegar ao maior número possível de ouvintes. Normalmente é essa a nossa inspiração e o nosso objectivo.

“Cunho limitado”
OA – Porque é que esta digressão tem tão poucas datas? É para torná-la mais intimista e acolhedora?
ST – Foi um bocadinho para fazer com que fosse um cunho limitado, por isso decidimos escolher alguns dos principais auditórios. Apologeticamente, era quase impossível transportar e fazer este concerto em qualquer sítio. Nós levamos quase a casa para o palco. Além dos músicos convidados. Então decidimos escolher algumas datas e alguns auditórios que fizessem sentido e não alargar muito a digressão. Pelo menos, nesta primeira fase.

OA – Depois de terem sido recusados pelas editoras, os The Gift editaram os discos em edição de autor e hoje têm muito sucesso no panorama musical. Como é que lidam com isso, com o facto de, para as editoras, por exemplo, terem ganho valor.
ST – No fundo nunca encarámos as editoras como um bicho-papão e julgo que elas também não o fizeram connosco. Elas têm as suas prioridades e os seus objectivos, que são vender as bandas e produtos, e o nosso objectivo era dar a conhecer a nossa música. Não funcionámos numa primeira etapa, não porque não quiséssemos mas sim porque na altura éramos incompatíveis com aquilo que as editoras procuravam. Mas julgo que elas têm bastante respeito por nós. Temos, inclusive, parcerias a nível de distribuição de discos, porque para nós era completamente desmedido assumir isso. Nós não guardamos rancor de ninguém. Entendemos perfeitamente as coisas e porque é que elas não aconteceram. Mas o que sempre metemos na cabeça era que nós íamos conseguir, e, de uma maneira ou outra, assim o fizemos.

Um Top português
OA – Sentem que estão a ganhar o estatuto de principais representantes da música electrónica portuguesa no mundo?
ST – Ainda é um pouco cedo para falar nisso, mas nós tentamos não ser representantes de nada. No fundo só queremos chegar com a nossa música ao maior número de pessoas possível e além fronteiras, porque achamos que faz sentido já que existe público que se identifica connosco. Só queremos ter o nosso disco bem distribuído, fazer alguns concertos com a devida promoção e por um mercado mais independente. Mas é um bocadinho difícil para nós, porque a pop é tão grande e há tan-tas bandas a competir pelo mesmo. Em Portugal, temos grandes bandas a todos os níveis. E lá fora estamos finalmente a ser encarados, não só como um País de fado, mas um País que acolhe vários estilos musicais e muita grande qualidade.

OA – Actualmente, o Top 10 nacional está ocupado por oito produções portuguesas, entre os quais os The Gift. O que pensam desta liderança nacional?
ST – Julgo que esses artistas que estão no top (André Sardet, Sérgio Godinho e Paulo Gonzo, entre outros) são, de facto, artistas com uma carreira bastante fomentada e bastante sólida. São artistas de sempre e que o público nunca os deixa ficar mal. Mas acho que, cada vez mais, há uma consciência de que, de facto, é preciso ouvir a música portuguesa e de que em Portugal há coisas boas a acontecer, desde o pop ao hip-hop. As pessoas estão finalmente a tomar consciência de que é preciso ajudar para que cada vez mais existam grandes e boas bandas.

in O Algarve - nov 2006