Tuesday, March 20, 2007

The Gift :: Facil de Entender

“É um documento difícil de se resistir que marca a nossa carreira”
Edição de luxo de «Fácil de Entender» traz os Gift de volta aos palcos


Um álbum novo, mas com temas já conhecidos. Confuso? «Fácil de Entender», disponível em CD e DVD, regista duas noites especiais da digressão «AM-FM». Na primeira foram recordadas músicas antigas e novas, num registo mais calmo com harpa e um coro feminino, recriando um ambiente muito íntimo. Na segunda noite, o cenário mudou e o ambiente ficou mais electrónico, mais pop, com canções mais dançáveis apresentadas em tom de festa.
Para além das músicas que marcaram a carreira dos Gift nos últimos anos, há dois inéditos: «Nice and Sweet» e «645». Talvez por isso Nuno Gonçalves, em conversa com o SE7E, tenha apresentado «Fácil de Entender» como o sucessor de «AM-FM», “um novo disco na carreira dos Gift e não um best of ou registo ao vivo”. Mas não deixa de o ser.
Disponível em duas edições – uma especial em formato de livro com fotografias, duplo álbum e um DVD com ambas as noites gravadas; outra edição com o essencial, um disco e um DVD do melhor destas duas noites – «Fácil de Entender» continua agora nos palcos, dia 25 no Europarque, em Santa Maria da Feira, e dia 2 de Dezembro na Fnac do NorteShopping.
Para 2007, os Gift já confirmaram a presença no primeiro grande Festival Espanhol. O Actual 2007, que se vai realizar entre 2 e 7 de Janeiro na cidade de Logrono, confirmou a banda de Alcobaça como parte integrante do cartaz ao lado dos Madness, Cypress Hill, New York Dolls, Vicente Amigo e Najwa Nimri.

Quando realizaram estes dois concertos, já estavam a pensar em registá-lo neste formato? Onde se encaixa «Fácil de Entender» na carreira dos Gift?
É um disco novo dos Gift, e não um álbum ao vivo ou um best of. Digamos que funciona como uma reunião de canções de sempre que foram retratadas em 2006 num espectáculo pensado especialmente para estas duas noites. A ideia surgiu da motivação que tínhamos em fazer um disco novo, mas que tivesse alguns temas antigos para além das canções novas. Isto porque queríamos dar a nova visão de temas que marcaram a nossa carreira, alguns anos depois. O «Fácil de Entender» é um disco muito bem conseguido que pretende ser um marco na carreira dos Gift em termos estilísticos e o facto de termos conseguido aliar um DVD, muito bem produzido e filmado, deixa-nos muito satisfeitos. Apesar dos temas não serem novos, soam a novo. Essa foi a grande motivação e o grande estímulo artístico da banda.

Como decorreu o processo de trabalho, seleccionaram os temas e dividiram-nos pelos dois ambientes ou partiram dos ambientes para escolher os temas?
Escolhemos os temas e um artista gráfico criou o ambiente, enquadrando o nosso conceito num espaço que chamou de A Casa dos Gift. Uma casa que, na primeira noite, era mais minimal, mais branca, e demos lugar aos convidados; e na segunda noite, a casa explodia, o branco virava espelhos e onde o calmo virava neon e cru.

Duas vertentes que estiveram sempre presentes nos vossos trabalhos, particularmente no «AM-FM»?
Sim, aí estes dois mundos foram levados ao extremo. Mas neste espectáculo essa dicotomia foi mais desenvolvida e graças à imagem a mensagem passou mais facilmente. Já se diz que a imagem vale mais que mil palavras e, neste caso, uma imagem vale mais que mil músicas. Aqui consegue-se perceber logo que há um acompanhamento gráfico em todo este trabalho.

Depois de “esconderem” os temas cantados em português nos discos anteriores, em «Fácil de Entender» escolheram um para single.
Precisávamos de um nome que simbolizasse a carreira dos Gift e este nome surgiu nesse sentido. Queríamos que as pessoas vissem este documento com calma, porque é fácil de entender.

Podemos esperar mais temas em português no próximo disco?
Não sei. Ainda não temos o próximo álbum pensado. Aliás, as únicas novidades que existem no disco, para além de todas as actualizações, são em inglês portanto ainda é cedo pensarmos nisso.

Estiveram no Brasil no ano passado e continuam a apostar em Espanha, onde integram o cartaz do festival Actual que se realiza no início de Janeiro. Como está a vossa carreira internacional?
A única certeza que temos é Espanha e o disco vai ser lançado lá em 2007. Costumamos tocar muitas vezes em Espanha, mas está a falar-se mais do Actual porque, na conferência de imprensa, a organização apresentou-nos como uma super potência internacional, o que nos deixa muito lisonjeados. O Brasil é outro país por onde nos queremos expandir. No entanto, não existe nenhuma estrada traçada dentro deste estilo de música e temos que ser nós a fazer tudo e a abrir caminho. Mas temos tempo. Nunca dissemos que o estrangeiro era para ser feito de um momento para o outro, portanto vamos continuar a trabalhar com a ambição de uma dia ter o nosso disco à venda em todas as lojas do mundo.

Apresentaram o disco em Sintra e em Alcobaça, e dia 25 actuam em Santa Maria da Feira. O espectáculo será representativo do que podemos ver no DVD?
O espectáculo chama-se «Fácil de Entender» e a ideia é recrear ao máximo o que aconteceu naquelas duas noites. Vamos contar com alguns dos convidados que participam no DVD, mas será diferente.

O «AM-FM» saiu há dois anos. Para quando prevêem editar o próximo registo de originais?
Nós consideramos o «Fácil de Entender» como um disco novo, pelo trabalho que tivemos e a dedicação artística que dispensámos, muito semelhante a um disco novo. A carga com que desenvolvemos artisticamente este disco foi igual a um disco novo, apesar de ter músicas que não são novas.

Mas quando prevêem entrar em estúdio?
Hoje em dia não existe muito espaço para poderemos descansar. Fazemos disto a nossa vida e interessa-nos fazer canções e, se possível, disponibiliza-las através do on-line para não ficarem na gaveta. Não nos interessa cumprir intervalos de dois em dois anos para editar, porque não nos estimula.

Desde o início que são conhecidos como banda “do-it-yourself” e mais uma vez assumem esta edição de luxo. Até que ponto é que o investimento tem retorno?
Quando se tem objectivos destes não se pensa nisso. Queremos dar o melhor às pessoas e distinguir-nos dos outros a olhos vistos, e acho que isso é óbvio. Por isso fizemos duas versões para as pessoas poderem escolher conforme o orçamento disponível. O importante é termos o disco nas lojas, como queremos, e isso foi conseguido. Temos liberdade para fazer as coisas à nossa maneira. Interessa-me mais ver o disco nas lojas destacadíssimo dos outros, porque realmente é bem melhor em termos de produto, e menos dinheiro na conta do que o inverso. Continuamos a achar que ainda há alguma paixão em volta disto tudo e é isso que conta. É a olhos visto que este disco se destaca e é bastante apelativo no que toca a combater a pirataria. Este é um documento difícil de se resistir que marca a carreira dos Gift.

Joana Brandão
in O Primeiro de Janeiro - 18 de Novembro 2006