Tuesday, March 20, 2007

The Gift :: Facil de Entender

É fácil de entender que estão em forma

"Vá lá que os senhores querem-se ir deitar". Mentira descarada, a única da noite dita por Sónia Tavares, já no final do primeiro encore do concerto que os The Gift deram, no sábado, no Grande Auditório do CCB, em Lisboa, um dos dois últimos da digressão "Fácil de entender". A única porque os 140 minutos com que a banda brindou o esgotado espaço foram de verdadeira partilha. E ninguém queria ir embora.

O quarteto de Alcobaça e os restantes 10 convidados deram dois espectáculos diferentes, um mais intimista e até com a partilha de histórias do interior do próprio grupo, e outro com ritmos elevados que levou, com algum custo, o público a deixar o conforto da cadeira e a dançar ao ritmo frenético das músicas e da voz da vocalista.

Surgidos do meio da plateia, na estreia em nome próprio naquele que consideraram o melhor palco português, os donos da casa - cenário que procuraram criar ora com luzes que os colocavam na penumbra fazendo, por vezes, lembrar uma sala escura em que tocava um CD, ora com o à vontade com que dançavam e se deleitavam ao som das próprias criações -, deram início ao desenrolar do álbum com o sobejamente conhecido "Music", passando de imediato para a novidade "Nice and sweet". O lado mais intimista prosseguiu, não sem antes serem audíveis vários problemas de som, corrigidos com demora. Por entre a forma agressiva com que Sónia Tavares interpreta temas como "Driving you slow" e "Actress", sempre adornada pela indumentária que ontem contemplou o branco com rosas na primeira parte e o cetim preto com cauda branca na segunda, destaque para a harpa e o saxofone conjugados com seis vozes femininas em fundo.

O intimismo deu para a partilha de histórias de adolescência por parte de Nuno Gonçalves que, ficamos a saber através da vocalista, tem os pés feios! O sentimento de família prolongou-se com o apogeu a chegar em "Fácil de entender", antes do intervalo.

Mudança de cenário, maior luminosidade e passagem para os ritmos 'upbeat' da banda. A partir de "Question of love" e "11.33", as cadeiras apenas tinham casacos. O CCB vibrou até ao final. Os dois encores, um baixo com uma duvidosa adaptação de "Índios" dos brasileiros Legião Urbana e outro elevadíssimo com "Absolute begginers", de Bowie, foram a antecâmara para o ponto final em conjunto com o público do renovado "Fácil de entender".

José Luís Pimenta
in Jornal de Notícias -11/12/2006