Saturday, November 11, 2006

The Gift :: AM FM ... concerto Barreiro

The Gift
“Este foi o nosso melhor concerto nos últimos dias”


Os The Gift actuaram no domingo, dia 21 de Agosto, nas Festas do Barreiro, tendo levado o público ao rubro. As músicas “Driving you slow”, “Ok. Do you want something simple”, “Music”e “11:33” foram as que mais fizeram dançar os fãs. Esta banda de Alcobaça tem-se revelado a cada disco, mostrando ambição e vontade de crescer. O Diário do Barreiro falou com Nuno Gonçalves, dos The Gift, que falou do concerto, do novo álbum AM/FM e dos projectos futuros.

Diário do Barreiro: Como correu o concerto no Barreiro?
- Nuno Gonçalves: O concerto correu bem. A banda agora vai partir para uma série de concertos, em oito dias vamos dar sete espectáculos, o que é sempre cansativo mas gratificante. O concerto no Barreiro foi um excelente início.
Aliás, os The Gift já tínham tocado uma vez no Barreiro, na Film Tour, mas este foi o nosso melhor concerto nos últimos dias, pois estava muita gente.

DB: Como tem decorrido a digressão do Álbum AM/FM?
- N.G.: Tem corrido super bem. Vamos bater o recorde de concertos com esta digressão e os espectáculos têm-se pautado com um nível muito acima da média. Para a banda era uma ambição algo complicada virmos com um espectáculo tão arrojado cenicamente, assim como tecnologicamente, pois às vezes não é fácil colocar tudo a tocar.
O facto de se levar para a estrada mais músicos, também era uma maneira da banda assumir um maior protagonismo e uma maior força. Contudo, corríamos o risco de as coisas não funcionarem bem, mas felizmente foi uma aposta ganha.

DB: Qual a diferença entre o disco AM e o FM?
- N.G.: Acho que a diferença é lógica e óbvia para quem ouve os dois cd’s O AM é um disco introspectivo, para se ouvir em casa, é um conceito mais relaxado e mais egoísta. O lado FM é precisamente o oposto, pois é para partilhar, para dançar e se ouvir no carro. Este cd também é, de alguma maneira, para pensar um bocadinho sobre tudo aquilo que nos rodeia e toda a energia, quer radiofónica quer dançante.

DB: A nível da internacionalização, o álbum AM /FM poderá abrir mais portas que o Film?
- N.G.: Nós não pensamos que seja a inclusão das músicas que possa influenciar as portas abertas do estrangeiro. Acho que falta, ainda, a pessoa certa, na altura certa e no espectáculo certo. Isso é uma coisa que nós não podemos prever, assim como não há álbum nenhum que faça com que isso aconteça.
Agora, com os álbuns e com o crescer da carreira dos The Gift podemos estar mais perto das pessoas, muito mais do que estávamos há dez anos atrás. Aliás, estes discos têm-nos possibilitado o contacto com uma editora maravilhosa, em Espanha, que é a V2, e com a qual podemos ir a um festival em Los Angeles, Berlim, Praga e Londres. E são esses espectáculos que nos fazem estar mais próximos dessa altura certa e da pessoa certa. Nós acreditamos que, mais tarde ou mais cedo, isso vai acontecer, e ajuda se tivermos essa ambição presente no nosso espírito.
Mas, não queremos mais do que ter o disco distribuído nas lojas e podermos ter um palco ou outro para tocar. Não queremos ser hits singles da MTV ou das rádios, queremos apenas ter os discos lá fora, e penso que não estamos a pedir muito.

DB:O álbum AM/FM foi editado primeiro no estrangeiro e só depois em Portugal? Esta opção tem a ver com a internacionalização?
- N.G.: Foi por acaso. Há dois anos tínhamos feito as primeiras partes dos Flaming Lips, nos Estados Unidos, e no último concerto em Los angeles conhecemos um realizador de vídeo, o Danny Passman, e fomos trocando e-mails com ele. Mais tarde, ele ouviu as maquetes do novo disco e quis fazer um videoclip da música “11:33”. No entanto, havia um dia em que era feriado nos Estúdios de Hollywood, e conseguíamos ter os estúdios mais baratos, e proveitamos para gravar o vídeo. Por acaso, era precisamente uma semana antes do disco ser lançado em Portugal.
Nós fomos de armas e bagagens para os Estados Unidos, mas acabamos por fazer primeiro, em Nova Iorque, um videoclip de low-budget para o “Music”, o 3º single a ser extraído deste disco. Depois, foi filmado, em Los Angeles, o clip da música “11:33”.
Portanto, não foi uma coisa pensada, simplesmente calhou os primeiros concertos e os primeiros cd’s que foram vendidos ter sido no estrangeiro.

DB: Como foi ver a música “Driving you slow” a tocar em todos os telemóveis, devido a uma campanha?
- N.G.: A banda foi estimulada pela Vodafone, pois era um serviço novo, o conhecido 3G, e aceitámos e acabamos por estrear quatro músicas do AM/FM nesse serviço, três semanas antes do disco estar nas lojas.
As pessoas podiam fazer o download para o telemóvel e acho que são tudo coisas estimulantes, e para nós que somos donos dos nossos direitos, da nossa música, e da nossa editora, é mais fácil chegarmos às pessoas. Isso foi uma maneira nobre de o “Driving you slow” ser um hino e uma música que tocou em todo o lado.

DB: Qual o motivo que vos leva a não quer uma editora para fazer a edição dos álbuns?
- N.G.: Até agora nunca sentimos necessidade de fazer isso. Não somos pessoas ‘agarradas’ a tudo, no dia em que acharmos que nos queremos desprender mais um bocado desse trabalho, então podemos passar isso para uma editora a sério, que trabalhe o disco, que nos grave e pague o disco. Mas, até agora não sentimos necessidade de fazer isso. É quase como aquela ideia “em equipa ganha não se mexe”, e nós temos vindo a subir neste 11 anos de carreira.

DB: Projectos para o futuro?
- N.G.: Acho que o AM/FM ainda tem muito para dar e vender. Apesar de tudo, acho que o este é o disco onde se encontram as melhores canções dos The Gift, e onde podemos explorar os singles e as músicas “não singles”. No concerto do Barreiro, a música que teve maior aceitação foi uma precisamente uma música em português, que está escondida no AM, o que mostra que as pessoas ainda estão a descobrir o disco.
O projecto para o futuro dos Gift é dar a conhecer este disco, ir para Espanha promovê-lo da melhor maneira. Se possível e se conseguirmos, gostaríamos de continuar a digressão até ao Verão do próximo ano. Acho que isso é possível, pois este ano conseguiu-se ter a agenda cheia muito cedo, em Março já não tínhamos fins-de-semana livres até Outubro.

DB: Como está o mercado nacional?
- N.G.: A única barreira que vejo, neste momento, no mercado discográfico é o facto de haver uma facilidade grátis de conseguir as músicas e os álbuns dos The Gift, via Internet, a qual nós não podemos combater. Acho sempre importante dizer às pessoas que, nós sabemos que a crise está aí e que não há dinheiro para nada, mas há muita coisa que é urgente fazer, assim como o meio vital que é poupar água. Mas, para a indústria musical portuguesa o nosso poupar água é “não façam pirataria”, pelo menos da música portuguesa, porque realmente as coisas estão graves, principalmente quando se vê os shares. Sinceramente, com a pirataria corremos o risco das nossas melhores bandas vierem a ter sérios problemas.
Há uns tempos atrás falou-se muito sobre a pirataria e acho que é urgente falarmos novamente nisso, e é um apelo que fazemos.

DB: Como está a agenda de concertos? Existem espectáculos no estrangeiro?
- N.G.: A agenda está cheia. Em Setembro, vamos tocar no dia 15 em Berlim, dia 16 em Praga, dia 20 em Londres e dia 2 em Espanha, depois voltamos a Portugal para mais uma série de concertos.
Vamos também tocar com os Deluxe, pois temos uma permuta em que os Gift abrem as primeiras partes deles, nos espectáculos mais importantes que vão decorrer em Madrid, Valência, Barcelona e Sevilha. Enquanto isso, os Deluxe fazem, esta semana, a primeira parte dos Gift.

DB: Como caracterizam os the Gift?
- N.G.: Consideramo-nos uma banda com 11 anos de carreira, ambiciosa, e que está a chegar a um patamar que, felizmente, em Portugal conseguiu ter o respeito e os alicerces necessários. Penso que, ao longo de uma carreira é importante ter os alicerces fortes e estruturados, para que se algum dia as coisas correrem ‘menos bem’, então conseguirmos aguentar a derrocada.
No estrangeiro, somos ainda uma banda muito pequena, mas com uma margem de promoção enorme ao longo dos próximos anos. Como tal, consideramos os Gift uma banda inspirada em Portugal, mas cada vez mais europeia. Portanto, acho que o objectivo primordial é levar a música dos Gift ao estrangeiro.

Carla Cerqueira
Em Artigo Jovem - Diário do Barreiro -8/24/2005